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Channel: Socialismo – BLASFÉMIAS
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Greves e propaganda

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PostosecoUma greve dos médicos tem um impacto mais imediato e gravoso sobre terceiros do que a dos motoristas de “matérias perigosas” (leia-se “combustíveis”). Já houve muitas e, que me lembre, nunca vi tamanho alarmismo de um governo, nunca o País foi colocado em “alerta médico”. Porquê então tamanha histeria com a actual greve? Porque mexe com o automóvel, esse símbolo-mor do capitalismo, cuja posse continua a ser um símbolo de status, algo de vital para a classe média, esquerda caviar e eco-fascista incluída, mas cuja indisponibilidade é fonte de insuportáveis pesadelos, mais a mais em período de férias.

Greves de médicos (ou de professores), nunca são generalizadas, afectam apenas hospitais e escolas públicas, portanto as classes baixas sem voz. A classe média urbana que protesta, pouco ou nada sofre com estas greves, tem os filhos em colégios privados e recorre a clínicas também privadas a coberto de seguros de saúde ou da ADSE.

O governo sabe disto e está em pânico com a perspectiva de secarem os postos de combustíveis. Haverá matérias bem mais perigosas, mas para outros efeitos que não o dos votos, portanto irrelevantes. E um sindicato que, tal como o dos enfermeiros, não integra o establishment, constitui incentivo adicional para o governo “ir à luta” e, pasme-se, vermos a geringonça a tender para o lado do patronato.

Claro que o governo tem feito asneira atrás de asneira, desde o convite a atestar atempadamente os depósitos até ao decretar da “emergência energética”, tudo a convidar explicitamente ao açambarcamento e a antecipar a situação de escassez.

Perfeita irracionalidade? Talvez não. Este governo vive apenas na lógica da propaganda e procura aproveitar cada crise como oportunidade para tal. E com uma imprensa amestrada e uma oposição queda, muda e acéfala, tem à frente um caminho sem escolhos.


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